27/03/2014

Mesa para Dois


"Como disse a escritora Isabel Allende, «o maior de todos os afrodisíacos é o amor». No entanto, há quem acredite que certos alimentos e receitas podem dar uma ajudinha.

Saiba quais.

A maçã poderá ter sido o primeiro alimento afrodisíaco da história do Homem, tentando Adão e Eva a prová-la, mesmo sob ameaça de punição. Mas a palavra “afrodisíaco” só surgiu com a deusa grega Afrodite, símbolo do amor e da fertilidade. Reza a lenda que a deusa nasceu da espuma do mar, depois do deus Cronos ter castrado o seu pai e lançado os genitais na água. Com Afrodite (conhecida pelos romanos como Vénus) nasceu o mito dos ingredientes (sobretudo os marinhos) e das receitas com poderes sensuais, acreditando-se que alguns deles libertam aromas que podem propiciar o clima de romance e atracção. Por isso não é raro ver em várias representações artísticas da época figuras de jovens amantes envoltos em lençóis, partilhando cachos de uvas, ostras, mel ou figos. Desde há muitos séculos que temperos e alimentos como a canela, o gengibre, a mostarda, o tomilho, o mel, o chocolate, as ostras, o açafrão e até mesmo o vinho têm sido reconhecidos como estimulantes da paixão. Alguns estudos defendem que o chocolate, por exemplo, ajuda a estimular a produção de endorfina, enquanto que o gengibre actua como vasodilatador. Há alimentos que despertam o desejo sexual por estarem associados a lendas, por terem componentes químicos que interferem com o organismo ou por simplesmente fazerem lembrar os órgãos sexuais masculinos ou femininos. A própria anatomia do ser humano estabelece uma ligação entre a comida e a paixão, começando pelo hipotálamo, região do cérebro que não só regula o estímulo sexual como também as sensações de fome e sede.

O conceito de gastronomia afrodisíaca varia muito de cultura para cultura e de época para época. Entre o grupo dos afrodisíacos mais clássicos encontram-se produtos como a mandrágora, cascos de bode, sangue de serpente e pó de corno de rinoceronte, ingredientes que a ciência dos tempos modernos desacreditou por não conseguir confirmar a existência de propriedades sensuais. Os Astecas associavam o abacate e o cacau ao estímulo sexual e, por isso, as virgens eram proibidas de saírem de casa durante a época de colheita. Depois dos Gregos e dos Hindus, a tradição Chinesa foi das que mais recorreu ao uso de produtos para intensificar o prazer e o desejo sexual. Esta cultura acredita que o gengibre tem o poder de nutrir o sémen e existe também uma geleia de gengibre que serve para estimular os órgãos sexuais femininos. O afrodisíaco mais valorizado na tradição chinesa é, no entanto, uma sopa feita com ninhos de pássaro retirados das montanhas perto do mar e que existem sobretudo nas ilhas tailandesas. Por ser muito difícil extrai-los, esta sopa é um prato luxuoso e caro, além de ser considerada um potente afrodisíaco e estimulador da fertilidade. Em terras brasileiras os guerreiros índios utilizavam o amendoim, a mandioca e o arroz selvagem como estimuladores da potência sexual. Já na Europa medieval, continente de rígidos costumes católicos, a luxúria e a gula eram dos pecados mais apetecidos. E os mais frequentemente quebrados. No século XVIII, a Madame de Pompadour, amante do rei francês Luís XV, foi uma das principais divulgadoras do uso de afrodisíacos entre as classes mais abastadas. Durante os anos em que frequentou a corte, em Paris, Madame de Pompadour organizou festas e ceias íntimas para entreter o rei, apostando muitas vezes no poder de alimentos afrodisíacos como os morangos, as ostras e o champanhe.

À luz das velas

Hoje existem, um pouco por todo o mundo, restaurante que se dedicam somente a criar ambientes repletos de sedução. É o caso dos parisienses Gran Vefour e La Perouse, dois estabelecimentos que oferecem o serviço “Cabinets Particuliers”, pequenas salas reservadas onde os casais podem ter absoluta privacidade após degustarem um especial menu afrodisíaco. Em Vacone, situada a 70 quilómetros de Roma, existe o restaurante “Solo per Due”, propriedade do designer Remi Di Claudio. O espaço foi inaugurado numa mansão clássica do século XIX e só atende casais. Aliás, só atende um casal de cada vez, sendo por isso mesmo considerado o restaurante mais pequeno do mundo. O êxito já é tanto que, para almoçar ou jantar, é preciso fazer uma reserva com mais de seis meses de antecedência.


Restaurante Afreudite

Em Portugal, o conceito de restaurante afrodisíaco já é famoso. O Restaurante Afreudite, em Lisboa, aberto há 9 anos, é um espaço decorado e cuidado ao mais ínfimo detalhe, onde se pode jantar à luz de velas e ao som de músicas chillout. Aí, a chefe Cláudia Borges prepara pratos baseados em ingredientes afrodisíacos como ostras, gengibre, chocolate, canela, cardamomo e ginseng. A ementa está repleta de nomes bastante sugestivos, como Orgia de Satay, uma entrada que evoca os pratos que os gregos e romanos comiam para ter força para as festas sexuais em que participavam. Muitos dos pratos referidos na ementa incluem uma sugestão de vinho para os acompanhar, pois esta é a bebida que mais faz lembrar a sedução.


Mais para norte, em Leiria, o restaurante Malagueta Afrodisíaca oferece, de acordo com o gerente Gustavo Belo, «um ambiente romântico num espaço minimalista, de tons quentes, acolhedor, decorado com motivos orientais e africanos e onde se pode ouvir música lounge». O Malagueta abriu há dois anos e a ementa afrodisíaca, preparada pelo chefe Stephane, é composta sobretudo por «comida étnica, um pouco de todo o mundo, mas sobretudo sul-americana», adianta o responsável. A sangria da casa, preparada com uma receita especial, é um dos principais motivos para se visitar o espaço. Os pratos levam muita canela e picante e os clientes podem ainda saborear chás afrodisíacos ou pedir umas margaritas e caipirinhas para acompanhar as entradas.

Já em Albufeira, um outro restaurante assume contornos ainda mais extravagantes. Trata-se do The Lingerie Restaurant que, além de afrodisíaco, assume-se como erótico. Isto porque todos os empregados do estabelecimento servem à mesa usando nada mais do que sensuais peças de roupa interior. A cozinha é internacional, mas os pratos afrodisíacos com nomes extremamente sugestivos ganham especial relevância. Durante as refeições, os clientes são surpreendidos com espectáculos de striptease, lap dance e table dance, além de sobremesas servidas de forma sensual. O conceito do The Lingerie Restaurant já se expandiu, existindo restaurantes também em Vila Nova de Gaia e Póvoa do Varzim.


O poder da mente

Muitos acreditam que para despertar o desejo não basta que existam pratos afrodisíacos na mesa. Preparar um prato afrodisíaco pode depender muito mais da intenção do que das propriedades em si. «Continuo a acreditar mais no cérebro do que nas papilas gustativas», comenta a esse respeito o psicólogo e sexólogo Júlio Machado Vaz, desvalorizando o poder dos ingredientes afrodisíacos. A mesma opinião tem Pedro Nobre, responsável pelo grupo de investigação em Sexologia Clínica do Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental, acreditando que «caso não estejam reunidas um conjunto de condições prévias (como desejo ou motivação para envolvimento, oportunidade, receptividade do parceiro) dificilmente qualquer afrodisíaco funciona». Nesse sentido, torna-se fundamental que também meio envolvente colabore no acender da paixão. Os aromas e decorações na sala de jantar devem ser cuidadosamente seleccionados, criando um clima relaxante e desinibido. A captação dos aromas é feita pela zona límbica do cérebro que está relacionada com a memória, as emoções e os instintos mais básicos como a sexualidade, a fome, a sede e o sono. Os aromas provocam reacções instintivas e, como tal, podem ser fortes influenciadores da atracção entre duas pessoas. O ambiente romântico de uma sala pode ser conseguido com a simples presença de flores, velas, queimadores de óleo ou sabonetes perfumados.


Além dos ingredientes, a própria estética do prato pode ser sugestiva. Afrodisíacos como as ostras, os mexilhões, os figos ou a banana são exemplos perfeitos de alimentos que, pela sua forma têm maior capacidade de despertar instintos carnais. Mas para um jantar romântico ou erótico até a loiça, os talheres, as velas, o vinho, a música ambiente e a imagem do prato ganham maior importância. De acordo com o descrito por Inês Santos no livro “Receitas de Sedução”, quando se prepara um jantar entre amantes «é melhor optar por morangos com chantilly que por um bolo seco de noz para sobremesa». O objectivo é mesmo agradar. Basta usar a imaginação..."

Fonte: mariajoaodealmeida

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